terça-feira, 23 de março de 2010

Arremetida

Imagine a cena: o avião está na aproximação final para pouso. Os trens já estão baixados e os flaps também. Você olha para a cidade abaixo se aproximando gradativamente e pensa que a viagem está chegando ao fim. Segundos antes de o avião tocar o solo você ouve o barulho dos motores aumentando, seu corpo sendo puxado para trás e, ao olhar para fora, vê o chão se afastando. Alguns a bordo gritam, outros ficam em silêncio com a clara sensação que “sua hora chegou”. Outros choram ou soluçam, e quando o avião pousa novamente, muitos passageiros – ao sair do avião – agradecem ao comandante por ter salvado as suas vidas.
Em aeroportos (controlados ou não) o piloto em comando pode decidir por executar uma arremetida (ou aproximação perdida) a qualquer momento. Durante uma aproximação muitas são as variáveis que podem levar a tal decisão. Por exemplo, a aeronave não está corretamente alinhada com o eixo da pista, se o aeroporto é controlado pode ser que a torre não autorizou o pouso por algum motivo, uma condição meteorológica perigosa (vento de rajada, baixa visibilidade, vento cruzado), ou qualquer outra condição que a tripulação julgue ser ameaçadora para a segurança da aproximação. Geralmente as companhias aéreas possuem uma lista de condições que ajudam a tripulação no seu processo decisório de executar ou não uma arremetida.
Diferentemente do que algumas pessoas acham uma arremetida não é uma condição de emergência – apesar de que em casos raros pode ser necessário arremeter em resposta a uma emergência. Essa manobra é prevista e muito conhecida dos tripulantes, tanto que do ponto de vista técnico-operacional uma arremetida não constitui uma ação não-rotineira, uma vez que todo pouso envolve um briefing do que será feito e entre os detalhes estão às ações que serão tomada em caso de descontinuidade da aproximação ou arremetida. Entretanto por mais normal que possa ser para os pilotos tal manobra pode causar um efeito negativo nos passageiros, ainda mais quando a imprensa não especializada no mundo todo trata a arremetida como uma situação de eminente perigo.
Muitas vezes, devido algumas das condições já descritas acima, um avião pode ter que executar uma ou até duas arremetidas seguidas, e devido ao stress e desconforto que essa manobra pode causar aos passageiros, muitas companhias aéreas tem como política alternar para outro aeroporto em vez de tentar mais uma aproximação. E isso não quer dizer necessariamente que está havendo uma situação de perigo. É uma questão de opção de cada companhia, por isso que muitas vezes é comum ver determinada aeronave de uma companhia aérea pousando e outra, de outra empresa, arremetendo e alternando seu voo para outro aeroporto.
Quando um piloto é instruído pela torre a executar uma arremetida ou decide arremeter ele aplica força total nos motores, muda a atitude da aeronave para que inicie uma subida ao mesmo que deixa a velocidade aumentar para então recolher os trens de pouso e os flaps conforme preconiza o fabricante. Ao ultrapassar uma determinada altitude o motor é reduzido para potência de subida. Após a arremetida o controle pode solicitar à aeronave que execute uma rota pré-determinada para uma nova aproximação ou pode também dar vetores para colocá-la novamente na rota de aproximação final.
Apesar de ser uma manobra com grande carga de trabalho para a tripulação o passageiro deve ter em mente que não se trata de uma situação de emergência ou até mesmo imperícia. Uma das grandes máximas da segurança de voo diz que “mais vale um voo atrasado do que um acidente no horário”.

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