As companhias aéreas Latam e Azul contam com pouca coisa em comum, além do setor em que atuam. A primeira, fusão entre a brasileira TAM e a chilena LAN, é a maior companhia do setor da América Latina em valor de mercado, avaliada em US$ 12 bilhões. Sua frota é composta de jatos da Boeing e da Airbus que voam para 150 destinos de 22 países. A Azul, por sua vez, ainda é uma nanica em ascensão, focada em voos regionais no Brasil com aviões de menor porte, fabricados pela Embraer e pela italiana ATR. Na semana passada, as duas empresas se diferenciaram ainda mais, ao seguirem rotas inversas em suas estratégias de financiamento. Enrique Cueto, que preside a Latam, embarcou na bolsa. David Neeleman, que comanda a Azul, por sua vez, desembarcou do mercado de capitais. A Latam definiu, na segunda-feira 24, os bancos que coordenarão uma oferta de ações, programada para o próximo trimestre, para captar US$ 1 bilhão – JP Morgan, IM Trust e BTG Pactual. A Azul, que havia programado seu IPO para julho, deu sinais de que, ao menos por ora, vai adiá-lo. “Temos a intenção de abrir capital. Entretanto, estamos acompanhando de perto o mercado para determinar o melhor momento de realizar a oferta pública, o qual ainda não está definido”, afirmou a empresa em comunicado. As duas companhias tinham razões semelhantes para captar recursos. Ambas precisam de dinheiro para alçar novos voos em meio a um cenário adverso do setor de aviação. Embora o número de passageiros venha crescendo ano a ano, a taxa de expansão desacelerou. Não bastasse isso, o aumento do preço do querosene de aviação, o principal item de custo, está pressionando a última linha do balanço das companhias aéreas. Prova disso são os números da Latam referentes a 2012: a companhia ainda apresentou lucro, esquálido, é verdade, de US$ 33 milhões, mas seu braço brasileiro perdeu cerca de US$ 600 milhões no mesmo período. Esse, no entanto, não é o caso da Azul. Ela é uma das poucas empresas brasileiras rentáveis nesse setor.Com operação totalmente focada no mercado regional, a empresa de Neeleman obteve um lucro líquido de R$ 30,6 milhões no primeiro trimestre de 2013. Depois que adquiriu a concorrente Trip, em maio de 2012, ganhou musculatura e um horizonte enorme de oportunidades no mercado regional, pousando e decolando em aeroportos nos quais as líderes TAM e Gol não operam. Nessa condição, a Azul pode se dar ao luxo de aguardar um momento de menor volatilidade da bolsa para fazer o seu IPO. Além disso, a empresa estaria articulando a compra da portuguesa TAP, com apoio do BNDES. A Azul não confirma a informação. O mesmo não se aplica à Latam. A companhia precisa de recursos para fortalecer o caixa e cumprir seu plano de investimento para renovação da frota.
Ao todo serão adquiridas de 15 a 25 aeronaves por ano entre 2013 e 2017, um investimento de US$ 11 bilhões. Entre as aquisições os destaques serão os modelos Airbus A320neo, A350 e Boeing 787 Dreamliner. Desembolsar uma quantia bilionária na compra de aviões ao mesmo tempo em que enfrenta solavancos nos balanços, aparentemente, fere os princípios das cartilhas empresariais. Mas esse não é o caso do setor de aviação. As novas aeronaves permitirão reduzir em cerca de 15% o consumo de combustível, uma economia que poderá mudar o panorama da Latam. Atualmente, os gastos com querosene respondem por quase metade dos custos das companhias aéreas.
“É muito importante diminuir a dependência do preço do petróleo, a julgar pelo sofrimento atual com a alta do dólar", afirma Guilherme Amaral, especialista em direito aeronáutico e sócio do escritório Aidar SBZ Advogados, de São Paulo. Essa estratégia é a grande aposta da Latam para colocar a operação da TAM em velocidade de cruzeiro. “Cumprir o plano de investimento é uma obsessão do grupo”, afirma Victor Mizusaki, analista do banco UBS. De acordo com o analista, as famílias Cueto e Amaro, principais acionistas da LAN e da TAM, respectivamente, se comprometeram a adquirir US$ 400 milhões da oferta de ações. O montante não será suficiente para que a companhia cumpra o cronograma, que prevê o desembolso US$ 2,1 bilhões neste ano. Outras alternativas de captação estão sendo discutidas à exaustão pela diretoria. Uma delas é vender títulos de dívidas da companhia.
29-06-2013
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