O primeiro avião a jato de transportes comercial a voar foi ao mesmo tempo um sucesso e um fracasso. O “De Havillad Comet”, ou simplesmente Comet, assombrou o mundo e encheu de orgulho a indústria inglesa ao entrar em operação em 1952. Portando quatro turbinas, com a fuselagem pressurizada e controle de temperatura revolucionário, a aeronave era capaz de voar mais rápido e mais alto que outros aviões. O Comet era, na década de 50, o “avião do futuro”.
O primeiro vôo de fato deu-se em 2 de maio de 1952, com a partida do aeroporto de Heathrow, Londres, rumo a Johannesburg, na África do sul. Este pioneiro vôo, pela companhia aérea inglesa Boac, foi seguido de um ano de sucessos e de vendas, que pareciam configurar para o avião uma existência de glórias. Contudo, em 2 de março de 1953, o Comet começou a revelar sua verdadeira personalidade, a de assassino alado. Neste dia, um Comet explodiu ao decolar em Karachi, no Paquistão, matando seus 11 ocupantes. Em 2 de maio do mesmo ano, um Comet desmanchou-se no ar duas horas depois de decolar de Calcutá, na Índia, ao entrar em uma nuvem de tempestades do tipo cúmulos-nimbus. Morreram 43 pessoas.
As autoridades e os fabricantes apressaram-se em culpar os tripulantes por suposta imperícia ou as condições meteorológicas. No entanto, em 10 de janeiro de 1954, o mesmo exemplar do Comet que inaugurou a era do jato em maio de 1952 explodiu em pleno vôo depois de decolar de Roma, como um céu de brigadeiro, sem nuvens. No dia seguinte, os Comets foram interditados e passaram por uma série de mudanças, voltando aos céus em março. Porém, em abril do mesmo ano, um outro acidente com a aeronave fez com que as autoridades britânicas caçassem a licença de operação da pioneira linhagem de jatos. Investigações posteriores concluíram que o formato das janelas do aeroplano, quadradas, eram inadequadas para aviões velozes e pressurizados, pois facilitavam o surgimento de rachaduras em suas arestas e a conseqüente desintegração dos aviões no ar.
Boeing
O fracasso do Comet não desanimou os construtores de aviões a jato. Não havia como interromper a marcha do progresso que se voltava nitidamente para este tipo de propulsão nos vôos comerciais. E ao Comet seguiram outros projetos de aviões a jato, tais como o birreator soviético TU-104, o francês Caravelle, o americano Douglas DC-8. Mas apesar desses precedentes, o que marcou decisivamente o alvorecer da era do jato na aviação comercial foi a introdução do Boeing 707 no tráfego comercial no dia 26 de maio de 1958, quando a Pan American inaugurou um serviço regular transatlântico, transportando 111 passageiros entre Nova York e Paris com o novo avião. A American Airlines abriu outra etapa pioneira, iniciando vôos intercontinentais regulares em 25 de janeiro de 1959, operando com o mesmo avião. Como a primeira família do ar americana, os jatos Boeing estabeleceram padrões mundiais em todas as fases do transporte aéreo moderno. O sucesso do Boeing 707 foi tal que alavancou sua fabricante para o topo da lista mundial de fabricantes de aviões. A mesma Boeing que parecia fadada a obter sucesso apenas com aeroplanos militares, como o bombardeiro a jato B-52, um símbolo da Guerra Fria, ainda utilizado pelas forças armadas dos Estados Unidos.
O 707 nasceu de um projeto original que previa a construção de um avião-tanque para o abastecimento de jatos militares em pleno vôo. Mas, em 1958, o 707 fez sua estréia como avião civil de passageiros e de cargas, inaugurando um reinado que se estendeu até os finais da década de 60, quando os gigantes Jumbos 747, também da Boeing, começaram a voar. O 707 inaugurou conceitos que se perpetuam nos jatos civis, como as asas enflechadas e as turbinas penduradas nas asas – o que não se via no Comet, que tinha as quatro turbinas como integrantes do corpo da asa.
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